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Rio de Janeiro: a guerra do Estado contra o povo das favelas

  • Foto do escritor: Vontade Popular
    Vontade Popular
  • 1 de nov.
  • 4 min de leitura

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Higienópolis - Outubro de 2025



O amanhecer de 28 de outubro de 2025 ficará marcado como um dos capítulos mais sangrentos da história recente do Rio de Janeiro. Nas primeiras horas da madrugada, cerca de 2.500 agentes das polícias civil e militar invadiram os complexos do Alemão e da Penha, sob o pretexto de combater o Comando Vermelho. O que se seguiu foi um cenário de guerra: helicópteros sobrevoando as casas, blindados circulando pelas vielas, tiros incessantes ecoando pelas encostas. A vida cotidiana dos moradores — trabalhadores, mães, crianças, estudantes — foi interrompida pela violência de Estado liberal e reacionário.


Os números são brutais. O governo estadual reconheceu mais de sessenta mortos; já a Defensoria Pública e organizações de direitos humanos apontam para mais de cento e vinte — possivelmente o maior massacre urbano da história do país. Há relatos de execuções sumárias, desaparecimentos e corpos abandonados nas ruas. As escolas foram fechadas, o transporte paralisado, e ambulâncias não conseguiam entrar nas comunidades. No dia seguinte, o silêncio foi substituído por gritos de revolta. Moradores marcharam pelo centro do Rio exigindo justiça, denunciando o racismo estrutural e responsabilizando o governador Cláudio Castro por comandar uma operação de extermínio.


A resposta à chacina ultrapassou os limites do estado. Em todo o país, movimentos populares, sindicatos, organizações estudantis, coletivos de direitos humanos e partidos de esquerda realizaram atos em repúdio à barbárie. De São Paulo a Salvador, de Porto Alegre a Belém, praças foram tomadas por faixas, tambores e palavras de ordem: “Parem de nos matar!”, “Favela vive!”, “Contra o Estado genocida!”. As manifestações expressaram uma indignação coletiva diante do que muitos chamaram de mais uma prova do caráter reacionário e genocida do velho Estado brasileiro — um Estado que serve aos interesses do capital e reprime o povo trabalhador com sangue e chumbo.


Por trás da retórica oficial de “combate ao tráfico”, esconde-se a verdadeira guerra: a guerra contra o pobre, o negro, o favelado. A operação do Rio não é uma exceção, mas a regra de um sistema que usa a violência como política social. A militarização das favelas é a face urbana de um Estado que abandona, persegue e extermina sua própria classe trabalhadora. O mesmo governo que corta investimentos em educação e moradia é o que despeja milhões de reais em armamentos, drones e munição. A favela é tratada como campo de teste da repressão estatal — uma zona de sacrifício onde o capital ensaia suas técnicas de controle.


O massacre revela o papel de classe do aparelho de segurança pública. A polícia não atua como protetora do povo, mas como guardiã da propriedade privada. Ela não defende a vida, mas o lucro. Sua função é conter o “perigo social” representado por um proletariado precarizado e racializado que, diante do desemprego e da miséria, se torna alvo constante do medo burguês. Cada operação policial é, portanto, um recado político: o Estado está disposto a matar para manter a ordem do capital.


A Maior apreensão de fuzis no rio não foi nas favelas!

A contradição se escancara quando se observa quem realmente detém o poder das armas. Poucos dias antes da operação, veio à tona a lembrança de outro episódio que desnuda a natureza desse Estado militarizado: a maior apreensão de fuzis da história do Rio de Janeiro, ocorrida em 2019, quando 117 fuzis M-16 foram encontrados na casa de Alexandre Motta, amigo e cúmplice de Ronnie Lessa, o policial militar reformado apontado como o assassino de Marielle Franco e de Anderson Gomes.


O arsenal estava cuidadosamente desmontado e guardado — pronto para ser montado e distribuído. Era a prova material de uma rede de tráfico de armas ligada a policiais e milicianos, que atuava com total impunidade. Enquanto o Estado executa trabalhadores nas favelas com a justificativa de “combater o crime”, os verdadeiros criminosos — agentes fardados e empresários do armamento — acumulam poder e lucro, abastecendo as mesmas milícias que o poder público finge combater.


O contraste é evidente: de um lado, a favela sitiada, submetida à violência cotidiana do Estado; de outro, a estrutura armada que emerge do próprio aparelho repressivo estatal. As armas que matam nas vielas do Alemão são as mesmas que circulam sob a proteção da polícia e dos interesses empresariais. O Estado capitalista é, ao mesmo tempo, o executor e o fornecedor da violência.


O que se observa é a militarização da reprodução social. A polícia e as milícias cumprem um papel político central na manutenção da ordem burguesa: controlam a força de trabalho supérflua, disciplinam a população pobre e asseguram o domínio do capital sobre os territórios urbanos. O “inimigo interno” não é o tráfico, mas o próprio povo que ousa existir à margem da lógica do lucro.


A chacina do Alemão, assim como o assassinato de Marielle Franco, não são eventos isolados — são expressões de uma mesma máquina de morte. Trata-se de um Estado que elimina seus filhos mais pobres, que protege assassinos de ativistas e que mantém laços estruturais com milícias armadas, todas surgidas do seio das instituições de segurança pública. É o retrato nu e cru de um país fundado sobre a violência de classe e racial.


Por todos os Estados, o povo pobre resiste e se solidariza.

Mas nem a repressão nem o terror calarão a voz do povo. A resistência cresce nas favelas e nas ruas, com organizações comunitárias, coletivos de juventude e movimentos populares denunciando o genocídio e construindo solidariedade de classe. Das vielas do Alemão e da Penha às praças das capitais, ecoa um mesmo grito: “O povo pobre não é inimigo — é vítima do Estado que o oprime!”


Por todo o brasil, diversos movimentos saíram às ruas em solidariedade às vitimas do genocídio perpetrado ´por mais de uma década aos cariocas. A repressão policial encrudece por todo brasil, de norte a sul. A escalada violente seguida pelo estado burguês, é reflexo da atual crise capitalista nacional e internacional. Com o povo pobre no campo e na cidade, mais uma vez pegando pela conta da crise.


O massacre do Rio de Janeiro é um símbolo cruel do Brasil contemporâneo: um país onde os ricos vivem protegidos por muros e helicópteros, enquanto o povo é cercado por tanques. É a expressão viva do velho Estado reacionário, que sustenta seus privilégios com sangue operário e favelado. Mas, como ensina a história, nenhuma ordem baseada na violência é eterna. A força que emerge das ruas e das favelas é a semente de um novo poder popular — um poder que não tema o povo armado de consciência.


 
 
 

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